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Casas Flutuantes com Amyr Klink

  • Foto do escritor: Vinícius Bopprê
    Vinícius Bopprê
  • 28 de mai.
  • 4 min de leitura

Uma casa flutuante, vista de dentro, é uma casa como quase todas as casas que conhecemos. Ela pode ser de madeira, de concreto, cercada de vidros. Uma casa geralmente tem uma cozinha, banheiros, uma sala com televisão e fotografias de família. Quartos com camas de casal e penteadeira. É a partir da janela, ou da varanda - todas elas têm sempre uma bela varanda - que percebemos que aquela não é exatamente uma casa como as que conhecemos.

O quintal é sempre muito maior do que os maiores quintais das casas mais legais que a gente, da cidade, já teve um dia a chance de conhecer. Isso porque o quintal pode ser a Praia de Jurumirim ou a divisa entre os rios Negro e Solimões. Não dá pra competir. O transporte até a cidade, o vizinho, ou o mercado, não é feito a pé, mas em canoas, barcos. Tanto aqueles movidos a remo ou com os sonoros motor de popa.

O som, aliás, também é profundamente diferente do som que se costuma ouvir numa casa normal. Muitas vezes o vento predomina, mas quando o vento cessa, ouvimos os pássaros, os macacos, os sons da natureza. Mas a principal diferença é que uma casa flutuante raramente está no mesmo lugar. Ao contrário. Está em constante movimento. Seja um movimento no próprio eixo - o que muda constantemente o ponto de vista -, seja num movimento ainda mais amplo, acompanhando a transformação da cheia em vazante. Uma casa flutuante, portanto, é uma casa que respeita o fluxo da água e que nele repousa. Não luta, não hesita. Flutua.

A ideia para fazer uma série sobre isso surgiu na pandemia, quando todo mundo tava preso em casa, questionando se poderia existir uma forma mais saudável de habitar o mundo. Eu era uma dessas pessoas também, claro. E ainda nesse primeiro período mais fechado da pandemia, a pessoa com quem eu mais me encontrei, exceto alguns familiares muito próximos, era o Amyr Klink. Até hoje essa frase soa estranha pra mim, mas foi mesmo verdade. Amyr e eu gastamos muitos dias juntos naquele ano estranho de 2020.

Conversamos - e gravamos - muito, muito, sobre suas viagens, mas não eram raros os dias em que a conversa seguia por outras rotas. Falávamos das coisas estranhas que aconteciam diariamente no mundo daqueles dias, falávamos dos amigos e familiares que perdemos, dos planos para o futuro caso ainda existisse um futuro.

Um dos planos do Amyr, por exemplo, era buscar seu barco Paratii, ou Paratizinho - para os mais íntimos - que estava “preso" nas Malvinas, em isolamento, como nós. Meu plano era mais humilde, ingênuo, e envolvia tentar passar mais tempo perto da natureza, cuidar melhor da saúde e construir uma cabana. Essas bobagens que todo mundo com algum grau de privilégio se deu a chance de pensar naquele ano. Foi quando ele me disse: por que você não constrói uma casa flutuante? Bom, passados 5 anos, eu - ainda - não construí a tal casa, mas, juntos, fizemos uma série de televisão para conhecer outras pessoas que já viviam suas vidas sobre as águas.

Foram 5 anos desenvolvendo a série Casas Flutuantes com Amyr Klink, que nunca foi pensada para falar só de arquitetura. Amyr e eu gostamos muito de histórias e quem conta histórias são as pessoas. A série, portanto, precisaria contar não só a história de construções, mas - e talvez principalmente - de seus construtores. Do lugar em que essa casa estava inserida. E, de novo, das pessoas que compunham aquele lugar. Pra isso a gente se juntou a um monte de gente talentosa, que construíram com a gente essa série ao longo de todo esse tempo. Pesquisadoras, roteiristas, fotógrafos, produtores e produtoras, montadores e montadoras, diretoras de arte, pós-produção, som, cor, e mais um tanto de gente que eu vou fazer um esforço de lembrar de todos os nomes ao final desse texto. Foi um baita time.

Casas Flutuantes com Amyr Klink é uma série em 8 episódios que viajou todas as regiões do país para descobrir como é a vida de quem escolheu viver na água. De quem entendeu que há uma imensidão de rios e mares nesse país maravilhoso só esperando pra ser olhados mais de perto. Estruturas que flutuam e abrigam pessoas com suas famílias, porta-retratos, geladeiras, televisões. Estruturas que flutuam como forma de solucionar um problema de uma comunidade. Estruturas que servem como posto de trabalho. Estruturas feitas por pessoas que não querem mais evitar as águas ou lutar contra elas, mas seguir o fluxo. Fazer essa série trouxe aprendizados que são também metáforas disso. Buscar a fluidez em vez da rigidez. Seguir sempre o fluxo, mas sempre com ternura e contemplar sempre. Contemplar sempre. Casas Flutuantes, graças ao trabalho de muita gente talentosa, é um projeto que encontrou formas de contemplar as águas. As pessoas. A vida. De flutuar. No dia 3 de junho o primeiro episódio vai ser lançado no Canal Modo Viagem e fica também disponível na GloboPlay. Obrigado a todos e todas que transformaram esse sonho em realidade, que dedicaram muito tempo de suas vidas na construção de algo tão sincero e bonito.

Ficha técnica: Apresentação: Amyr Klink Criação e Direção: Vinícius Bopprê Produção: Deusdará Filmes Produção Executiva: Graziela Mantoanelli, Leonardo Brant, Sérgio Rizzo e Vinícius Bopprê Roteiro: Sérgio Rizzo Direção de fotografia: Tiago Pinheiro Assistente de fotografia: Luíza Rangel Som direto: Thiago Ferraz Assistente de produção: Rick Nagash Montagem: Edison Rodrigues Galindo Júnior, Juli Cândido, Lucas Melo Assistente de montagem: Guilherme Macedo Colorização: Lucas Melo e José Augusto de Blasiis Trilha Sonora Original: Benjamim Taubkin Direção de arte: Bruna Zanichelli Pesquisa: Júlia Brito Maciel e Mila Lo Bianco Direção de produção: Ana Castro Figurino: Gi Marcondes Mixagem de som: Caetano Cotrim de Blasiis Comunicação: Rafael Prado e Fernanda Rosário Maquiagem: Letícia de Carvalho



 
 
 

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